O objetivo desse texto não é fazer um tratado nos moldes científicos, citando fontes com autores consagrados para fundamentar o que será escrito, e isso se dá por vários motivos:
- pela falta de pretensão de publicá-lo em fontes oficiais;
- pela mais pura e nobre preguiça de ter que ficar pesquisando cada pensamento que não é exclusivamente meu;
- pela audácia de supor que meu nome é suficientemente renomado para poder “achar alguma coisa” sem citar sua fonte;
- pela humildade de admitir que não possuo o anseio de enfileirar, um dia, os grandes nomes do pensamento pós-contemporâneo.
Na verdade, essas linhas foram escritas para mim mesma, para depositar na eternidade meu pensamento em um dado momento histórico e determinado da minha vida, com a coragem de admitir que tais idéias podem estar completamente equivocadas, e, com esperança de quando eu me der conta disso, tenha coragem serena para admitir publicamente, ou não.
Logo, tais idéias são para ser refletidas e não recomendo seu uso em citações diretas ou indiretas em qualquer trabalho científico. Não que as idéias sejam ruins (ou talvez sejam?), mas porque tal texto carece de metodologia científica e citação de fontes renomadas, afinal, la fuente soy yo (mi español es fueda!).
O homem sempre sentiu a necessidade de crer em algo, sendo esse “crer” uma forma de preencher o vazio que todo e qualquer homem sente. Ele pode crer em deus, em deuses, na religião, no sistema, na energia, na ciência ou até mesmo pode crer que não crê em nada. Mas, de uma forma ou de outra, o homem sempre crê em algo que não compreende por completo, na esperança de que o desconhecido (não importando a sua fonte) possa preencher esse vazio que o homem carrega consigo (ou será que é o vazio que carrega o homem?).
De todas essas fontes que o homem utiliza para preencher esse vazio, duas chamam a atenção: a religião e a ciência.
A religião pode ser considerada a primeira forma que o homem encontrou para preencher seu vazio. Incrivelmente, todas as civilizações (e até mesmo aquelas não tão civilizadas) utilizaram a religião para esse e outros fins. Mesmo considerando as diferentes religiões, não se pode negar o fato que todas elas têm coisas em comum: que há um(uns) deus(ses) que está(ao) acima de nós, a noção de vida após a morte, o ensinamento de um caminho difícil para se chegara um lugar bom/céu/nirvana/acima, e a idéia de um outro lugar ruim/inferno/lugar quente com fogo e enxofre/abaixo.
O mais interessante é que civilizações histórica e cronologicamente sem contato, desenvolveram religiões com as mesmas noções básicas, porém com nomes e formas diferentes. Não poderia responder o porquê disso. Talvez seja porque tenha um fundo de verdade, ou porque seja fruto de uma histeria coletiva e cronologicamente sem fim. O fato é que para mim, essa é uma pergunta sem resposta.
Mas, também, há de se colocar o lado negro da religião, que matou e continua matando milhares de pessoas, sendo utilizado como máscara para se conseguir poder, etc...Isso sem mencionar que a religião nos traz mais dúvidas que certezas.
Por outro lado, tem-se a ciência, a menina dos olhos do homem moderno. A ciência, da forma que a conhecemos hoje, modificou o mundo e a forma de vê-lo. Tudo isso, em pouquíssimo tempo, uns trezentos anos.
Realmente foi um feito extraordinário. De repente, o homem percebeu que pode fazer remédios para doenças que levavam a morte, e, assim as pessoas não morriam mais pelo “desígnio de deus”. Poder explicar e prever desde o movimento de uma simples pedrinha que jogamos ao lago até como funcionam máquinas complexas, é algo que não se pode ignorar.
Talvez, essa tenha sido a primeira vez que o homem obteve respostas concretas sobre certas perguntas em que a única resposta consolável era: porque assim deus quis. E, a partir de então, as coisas não aconteceriam só porque deus queria, pois o homem aprendeu a interferir na vontade de deus e, finalmente, impôs a sua. Eis que o homem descobriu que poderia ser deus.
Agora, ele não era mais uma mera criatura posta na Terra para ser observado lá de cima. Agora, é o homem que observa a Terra e seus processos, aprendendo a manipulá-los. Agora, existe observador e observado.
Talvez, o grande erro da ciência moderna, é admitir, como possibilidade real, a imparcialidade e a neutralidade do observador, com a justificativa de que se o cientista quer descobrir a ‘verdade’, ele deve estar alheio ao objeto observado.
Ocorre que essa divisão é impossível, pois o homem faz e sempre fará parte do objeto observado. Pois cada parte do universo compõe o todo, e, de uma forma ou de outra, separar o observador do observado, é se esquecer que o homem também compõe esse todo, e, esse todo é da forma atual porque o homem dele faz parte; pois se não o fizesse, o todo não seria da forma que é (espero não ter viajado muito na maionese me aprofundado em demasiado).
É exatamente por isso que às vezes ficamos meio perdidos em relação à algumas questões suscitadas pela ciência. Vejamos um exemplo simples: o que é melhor para a saúde – chá ou café?
Há pesquisas científicas que dizem que é o café e há pesquisas, igualmente científicas, que dizem que é o chá. Como pode haver duas pesquisas científicas com resultados conflitantes? Podemos especular duas possibilidades iniciais: a primeira é ver quem está financiando a pesquisa, afinal, qual a possibilidade de uma fábrica de café financiar uma pesquisa que dirá que o café faz mal à saúde? E, me desculpem, mas me recuso a acreditar que um cientista financiado por uma indústria de café, não se sinta obrigado a descobrir somente as vantagens do café, ou seja, de imparcialidade não há nada.
A segunda possibilidade é estudar a vida do cientista, pois as suas experiências pessoais certamente o influenciarão em suas pesquisas. No exemplo dado, não me surpreenderia o fato da pesquisa científica que afirma que o chá é melhor que o café fosse elaborado por cientistas ingleses que bebem chá desde a mamadeira, sendo essa uma tradição de seu país. Ou seja, de neutralidade, nesse caso, não há nada.
Esse é um exemplo bem simples, até porque tal pesquisa afeta muito pouco a nossa vida, pois, não lembro de alguém ter morrido de overdose de chá ou café.
Mas, têm-se casos bem mais complexos que demonstram a impossibilidade de se separar o observador do observado, e as suas conseqüências são inimagináveis.
É o caso da genética. Os cientistas querem compreender o genoma humano, e, dentre seus objetivos, querem evitar que pessoas nasçam com doenças congênitas. Só que se o homem conseguir manipular desse jeito o genoma humano, além de fazer nascer uma criança saudável, também poderá escolher o sexo, a cor dos olhos, do cabelo, da pele.
Tais modificações são cientificamente possíveis, mas se não considerarmos que o homem observador faz parte do objeto observado, em apenas algumas gerações a humanidade será branca, loira e de olho azul ou verde. Por fim, ciência realizará o sonho que Hitler não conseguiu. (Afinal, há diferença entre matar uma pessoa não ariana ou permitir que ela não nasça?)
Outro caso é o da utilização dos recursos naturais.
Inúmeras foram as pesquisas científicas que embasaram a extração dos recursos minerais e hídricos do planeta, sejam elas para potencializar cada vez mais a extração, sejam elas para dar inúmeros outros fins ao recurso extraído. O resultado está se sentindo agora: poluição, aquecimento global, escassez de recursos minerais e hídricos, extinção de várias espécies da fauna e da flora.
O cientista, observador, estudou cientificamente e explorou tais recursos como se ele não fizesse parte do objeto observado, e, conseqüentemente, o observador, hoje, passa fome, está doente, está fazendo guerra e está morrendo.
Mas dessa vez, o homem não pode culpar deus de nada.
Sob esse ponto de vista, muito mais sábia era aquela humanidade que acreditava em fadas e em duendes que viviam na natureza. Uma época, em que o homem era apenas mais uma criatura de deus no meio de outros seres vivos, dos rios, do ar. Uma época em que o homem retirava recursos da natureza apenas para sua subsistência. Uma época em que o homem era parte integrante do planeta. Ninguém comprovou, cientificamente, a existência de fadas e duendes. Porém, ninguém pode negar que a crença da sua existência ajudou a manter o equilíbrio da natureza.
Por fim, não que eu odeie a ciência e ache que ela não sirva para nada. Não que eu seja uma religiosa fanática que acredita num cara lá em cima sentado num trono anotando meus pecados para me cobrar no juízo final. Mas, quem confia cegamente na ciência e faz dela o seu deus ou sua filosofia de vida, comete o mesmo erro daquele mulçumano fanático que, uma dia, pilotou um avião e se jogou contra um prédio em setembro de 2001.
PS: Publiquei esse texto em um blog antigo, então, vou deixar registrado os dois únicos comentários:Ricardo Chicuta - Espinhosinho o assunto hein?O negócio é o seguinte,sempre achei que esse negócio de crer em algo superior a mim fosse para os fracos.Muito fácil colocar a culpa no Papai Noel.Eu descreio,em tudo e em todos,inclusive em mim mesmo.Ana Reczek - Eu ja li em algum lugar alguem dizendo que ser ateu nao é uma escolha. Quem escolhe ser ateu é um falso ateu. O verdadeiro é aquele que ja tentou acreditar em varias coisas, mas simplesmente nao consegue. Porque ser ateu é o caminho mais dificil, que menos oferece consolo nas horas duras. Qualquer pessoa que pudesse escolher acreditaria em alguma entidade. É assim que eu me sinto. Acho muito chato nao conseguir acreditar em um poder divino.