Eu, eu mesma e o nada
Queria fugir desse vazio que me assola. Redescobrir a infância, me permitir chorar e ser ninada no colo de alguém que eu confie.
Queria poder olhar para mim mesma e dizer que estou no caminho certo. Sair por aí, brincando na chuva e chegar em casa, tomar um banho e um café quentinho.
Queria poder me considerar uma pessoa responsável, confiável e ser exemplo para o meu neto, se algum dia eu tiver um, é claro.
Mas não. Cada dia que passa essa apatia me consome, e, quando alguém tenta me ajudar, só consegue aumentar mais essa mágoa do mundo que trago no peito.
Olhar para os lados e não ver solução é lamentável. Mas, olhar para os lados e se negar a ver uma solução é deprimente.
Não quero saber quem eu sou, não quero saber o que há no outro lado do mundo. Não quero ser famosa, não quero ser rica.
Já aceitei há muito tempo que se morre aos poucos, e, que o último suspiro que se dá na vida antes de morrer não é muito diferente do primeiro que se dá para viver. Ambos são únicos, marcantes e, infelizmente o primeiro sopro de vida também é o suspiro do início da morte. Começamos a morrer no momento em que nascemos, isso é fato.
Não desejo a morte, não há porque desejar o inevitável. É superficial demais desejar aquilo que se é fácil de conseguir. Não gosto de coisas fáceis. Se for pra desejar, que se deseje o inalcançável.
Hoje, o que mais desejo é o nada. Não há nada mais tranqüilo, sereno e mais perturbador que o próprio nada. Desejo-o, mas fujo dele como o Diabo foge da cruz.
Aí é que está o problema: o que eu mais desejo é o que eu mais repudio.
Por mais que eu o deseje, queria fugir desse vazio que me assola. Até poderia me jogar de corpo e alma nesse buraco negro existencial, mas só vou tomar um comprimido para dormir.
Gostei. Identifiquei-me. Também poderia me jogar no buraco negro existencial, mas vou só tomar um comprimidinho pra dormir e vai ser agora!