Mais um dia das mães sem minha mãe.
É isso aí... fico pensando se, para o resto da minha vida, todos os anos, vou escrever um post sobre a ausência da minha mãe no dia das mães.
Já lamentei, já chorei, já gritei, já me revoltei... mas o fato é que nada disso traz minha mãe de volta, porém, me torna mais humana.
Um dia desses, minha irmã comentou comigo que daria tudo para ter a mãe só por mais um dia que fosse.
Nessa hora, eu olhei para ela e falei que daria tudo para esse dia nunca chegar.
Minha irmã me encarou de forma carrancuda e me fez um discurso de filha desnaturada, etc. No final, ela me perguntou o porquê dessa minha postura.
Respondi que não queria minha mãe por mais um dia sequer, pois não suportaria perde-la novamente.
Mas ao ter que lidar com a morte, aprendemos que uma pessoa é muito mais que um simples corpo e uma mente.
Quando minha mãe faleceu, logo pensei que poderiam tirar o corpo da minha mãe de mim, mas ninguém poderia tirar as lembranças que tinham dela, e isso sim, seria o meu porto seguro, meu prêmio de consolação, minha forma concreta de sentir que uma pessoa vive mesmo depois de morrer.
Mas o tempo é traiçoeiro e o passado um tremendo fanfarrão. Com o tempo as lembranças já não são tão coloridas, já não tem tantos detalhes. É triste, mas as nossas próprias lembranças são modificadas com o tempo e já não são mais cópia fiel do passado.
Um dia, me dei conta que já não me lembrava mais da voz da minha mãe. Um dos dias mais triste da minha vida. Chorei tanto, chorei mais do que no dia do enterro propriamente dito.
Não sabia que, se uma pessoa vive de várias formas, também morre de várias formas. É cruel ter que ver uma pessoa q tu amou ir embora de várias maneiras. Não é justo perder alguém aos poucos.
Sinto falta do beijo de boa noite que sempre dava para a minha mãe quando chegava tarde da noite em casa, pois sabia q ela só dormeria tranqüila quando soubesse q eu estava sã e salva em casa.
Sinto falta da tardes de sábado que a gente ficava vendo os calouros do Raul Gil comendo cavaquinho.
Sinto falta das madrugadas de segunda que eu e minha mãe íamos escondidas do meu pai para a sala assistir aos testes de fidelidade.
Só me resta esperar o dia em que terei que enterrar minha mãe novamente quando meu cérebro for velhinho e já não poder ter comigo essas pequenas lembranças que me consolam quando lembro da ausência dela.