Sem minha mãe? Nem sempre...
Perder pessoas que a gente ama, infelizmente, é normal. Mesmo que doa, perder a mãe é algo natural. Sabemos disso a vida inteira, mas quem disse que isso consola?
Minha mãe, quando viva, sempre dizia: “para morrer, basta estar vivo”. E é bem por aí mesmo.
E a pessoa morre aos poucos. Um dia é seu corpo que padece. Passa mais um tempo e já não se lembra mais com a mesma nitidez as nuances do seu rosto nem a sua voz.
Muito tempo depois, as lembranças dos momentos que passamos com a pessoa amada, também, se vão.
A morte do corpo físico pode ser rápida. Mas o ser humano é muito mais que um amontoado de células. A morte completa de um ser humano (se é que existe) é lenta, muito lenta.
Só quem passou por isso entende o que é presenciar à vários funerais de uma mesma pessoa: a do corpo, a das lembranças, a dos momentos vividos. Todos igualmente tristes, e, com exceção do primeiro, extremamente solitário.
E aí, quando pensamos que tudo está perdido, encontramos uma forma de fazer nosso ente querido viver, mesmo que numa realidade paralela.
Sempre acontece algo que nos faz lembrar aquele que amamos, e, é inevitável dizer: “se fulano estivesse aqui, ele diria ou faria tal coisa”.
Quando a pessoa que amamos e se foi é nossa mãe, esses acontecimentos são freqüentes:
“Se minha mãe estivesse aqui, ela já ia me pedir cópia de TODOS os filmes do Mazzaropi.”
“Se fosse minha mãe, teria uma crise toda vez que chegasse em casa às oito ma manhã.”
“Nessa época, minha mãe colocaria MAIS UMA VEZ DE NOVO NOVAMENTE o CD de Natal da Simone”
“Se minha mãe estivesse aqui nesse sábado chuvoso, ela fritaria cavaquinho e assistiríamos ao Raul Gil.”
Criar essas realidades alternativas é quase tão gostoso quanto presenciá-las. Uma saudade gostosa, uma onda morna que aquece o coração.
Quando menos se espera, soltamos um sorriso frouxo diante daquela possibilidade de acontecimento.
Depois de tantos funerais, recriamos a pessoa que amamos. A imaginação é tão perfeita que quase podemos tocar e sentir seu cheiro.
E assim, descobrimos que, se há muitas formas de uma pessoa morrer, há, também, inúmeras outras formas de se continuar vivendo dentro.
A vida e a morte é realmente algo complexo.
Me fez chorar...
Sou sua fã Pri, sem mais.
Mi ex-loira
belo texto...penso o mesmo em relação à minha mãe. O que importa é que elas existiram e nos deixaram boas lembranças. :)
Eu nunca senti a morte de alguém com muita força. Talvez quando o meu pai ou minha tia morrerem eu passe por isso. Mas eu tenho um pensamento dentro de mim de que está melhor quem já se foi. Acho que isso me "ajuda" a não criar tanta neura em relação a morte.
Você faz certo. Sorri. É das lembranças boas, aquelas que colocam sorrisos nos olhos que a gente precisa para ser mais feliz.
Concordo com a Pri Gambarra.
Tento me preparar estar forte quando vier os dias piores, mas não adianta muito. Só me resta viver, aproveitar tudo que é possível para depois chorar só o quanto for necessário.
Bjs e parabéns pelo texto!
Excelente texto, é exatamente assim que as coisas são.
So quem passou por algo assim é que entende,não é simples explicar e muitas vezes impossivel. ë um vazio no peito que nunca será preenchido, mesmo tentando se forte, tentando se prepara como alguns acima falaram ... isso é incontrolavel e graças a Deus, afinal é isso que nos torna humanos.
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