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Vamos pintar o sete?


Nasci decidida, sempre certa sobre o que queria fazer da minha vida. É fácil ter coragem para ir atrás de algo que se tem convicção do que se quer.


Mas a vida prega peças, nos tira cada alicerce de sanidade só para mostrar que não sabemos nada.


Um dia acordei e descobri que não era nada, que não tinha nada. Ruim? Ótimo! Pela primeira vez sinto o gosto dessa tão falada liberdade.


Quando não se tem nada a perder, pode-se fazer o que quiser.


Contudo, nem sempre o que é bom é fácil de se fazer.


Se a vida fosse um quadro, o meu teria sempre sido, até então, um quadro já desenhado. Meu trabalho era apenas pintar da forma mais bela possível a paisagem que a vida tinha me dado.


Porém, esse quadro pegou fogo. Doeu. Ai como doeu ver aquelas cores que, com tanto custo joguei na tela, se reduzirem a cinzas.


Esbravejei com a vida! Não era justo me tirarem a minha obra prima! Tanto esforço para nada... Já não havia mais lágrimas para chorar.


E a vida me respondeu: “Não, minha querida! Até hoje você apenas coloriu o que eu desenhei. Está na hora de fazer o seu próprio quadro.”


Hoje, vejo um quadro branco na minha frente e vários pincéis e baldes de tintas ao meu lado.


Fazer seu próprio quadro é bem diferente de apenas colori-lo.


Olho para as cores, olho para o branco que aguarda ansiosamente cada imagem, e, por fim, olho para a artista que há em mim e percebo que não sei o que quero desenhar.


Logo eu, aquela menina sempre decidida e corajosa! Olha só para ela: inerte, confusa e medrosa.


As minhas convicções viraram pó. Meus princípios se moldaram de forma diferente. Minhas prioridades mudaram.


Já quis muito ser uma profissional de sucesso e rica. Hoje, só quero poder me expressar e ter dinheiro suficiente para levar uma vida tranqüila.


Já quis muito ter um nome importante. Hoje, quero ser importante na vida das pessoas que eu amo.


Já quis muito falar para multidões. Hoje, quero sentar em um lugar aconchegante e rir da vida.


Essa sensação de liberdade, de poder pintar o que quiser da forma que quiser o quadro da vida, no fundo, me assusta.


Mas chegou a hora de pintar meu próprio quadro!


Olho para os pincéis. Para que pincéis? Vou é meter minha mão nesses baldes de tinta e esfregar meu corpo nessa tela.


Quero colorir minhas coxas.


Quero carimbar as minhas bochechas com as mãos!


Quero misturar azul e amarelo até encontrar o roxo, pois o verde é simplório demais.


Provavelmente, vai sair um Picasso. Não que minha pintura seja uma obra prima, mas, é que toda vez que eu vejo um quadro dele, tenho a nítida sensação de ser um desenho tosco feito por uma criança de 10 anos.


E ai? Vamos brincar de crianças na pré-escola e colorir a vida com as mãos? ;)



3 Response to "Vamos pintar o sete?"

  1. Filipe says:

    Que bacana, vejo aqui uma futura integrante da Academia Criciumense de Letras :)

    Gostei e te apoio: Pinte o quadro, suje as mãos, viva e extravasa ;*

    Nanda says:

    Eu tbém sempre qdo olho essas pinturas carissimas penso como vc, que parece ter sido feito por aquelas crianças da pré escola...

    E é como vc mesma disse, fazer a própria história é muito diferente do que apenas ilustrá-la... e acho que mil vez melhor!
    Adoro te ler.

    beijos

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