A arte da verdadeira argumentação
Sinto falta da arte de fundamentar a argumentação. As pessoas, hoje, são tão ligadas à arte de convencer que se esqueceram do principal motivo, pelo menos o mais nobre deles, de fazer com que alguém concorde contigo: a argumentação em si.
Atualmente, é cada vez mais crescente as pessoas que procuram a PNL (programação neuro linguística), por exemplo, para convencer a todos daquilo que se fala.
Procura-se, cada vez mais, uma pseudo fundamentação de uma opinião em qualquer filósofo da moda. Utiliza-se de frases de efeito, quase poéticas... tão lindo quanto vazio.
Quando falo na arte de fundamentar a argumentação... refiro-me a argumentar com a alma, com nossas conclusões da observação da vida, da nossa vida, da verdade, da nossa verdade.
Desculpem-me, mas não há Nietzsche ou Clarice Lispector que supere tudo aquilo que aprendi com lágrimas de sangue.
Acredite (ou não), quem é muito eloquente, discursa bem ou escreve teses maravilhosas fundamentadas em milhões de outros autores no fundo é um mentiroso.
No fim, a verdade é direta. A mentira é que precisa de enfeites para nascer.
Para falar a verdade (a verdade de cada um), a argumentação lógica basta. Mas para ludibriar o leitor ou o ouvinte é necessário poesia, ironia, teatro, respaldo na opinião da moda.
São belíssimos atores: fingem uma intelectualidade vazia, pois, raramente a colocam na vida prática. Ganham aplausos dos leitores e vaias da vida.
Melhor um parágrafo de argumentação verdadeira que um tratado cheio de floreios e vazio.
Se pseudo fundamenta demais, se discursa verdadeiramente de menos. E quando a argumentação em si é fraca, ela está longe de ser parecer com a verdade. Torna-se uma mentira convincente.
E para você que está me achando louca. Não sou a única que pensa dessa maneira. Por isso transcrevo um trecho de Aldous Huxley na obra Os Demônios de Loundum:
PS: Aqui estou eu fazendo o que odeio (floreiando uma argumentação para poder convencer). Mas não ligue, paradoxos fazem parte de quem sou.
“Declamadas (a eloquência) por um bom ator – e todo grande pregador, todo advogado e político de sucesso é, entre outras coisas, um ator consumado - , as palavras podem exercer um poder quase mágico sobre seus ouvintes. Devido à irracionalidade intrínseca desse poder, mesmo os oradores mais bem intencionados causam talvez mais danos que benesses. Quando um orador, valendo-se apenas da magia da palavra e de uma bela voz, persuade sua audiência da justeza de uma causa indigna, ficamos profundamente chocados. Devíamos nos sentir da mesma forma sempre que nos deparamos com os mesmos artifícios descabidos, utilizados para persuadir as pessoas quanto à justeza de uma boa causa. A crença gerada pode ser desejável, mas os recursos utilizados para isso estão intrinsecamente errados, e aqueles que empregam os estratagemas da oratória a fim de incutir crenças justas são culpados por servir-se de menos recomendáveis recursos da natureza humana. Exercitando seu funesto dom da palavra, eles aprofundam o estupor semicataléptico na qual vive a maioria dos seres humanos, e do qual é intenção e finalidade de toda verdadeira filosofia e de toda religião verdadeiramente espiritual liberta-los. Além disso, não pode existir oratória brilhante sem simplificação exagerada. Entretanto, não se pode simplificar demais sem distorcer os fatos. Mesmo quando está se fazendo todo o possível para não faltar com a verdade, o orador de sucesso é ipso facto um mentiroso. E os oradores bem sucedidos, nem é necessário acrescentar, não estão sequer tentando dizer a verdade; estão procurando despertar a simpatia de seus amigos e a aversão de seus inimigos.”
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