Meu primeiro amor
Existe sentimentos que ficam lá no fundinho do coração, escondidos, como um bibelô de cristal com laçarote lilás que teimamos em deixar num cantinho da estante, mesmo que não combine com o resto da casa... que agora é moderna e clean.
Na grande maioria das vezes não são perceptíveis a todo momento, mas estão lá sempre... mesmo que a gente não note.
Aí, um dia, estamos olhando para o nada e nos deparamos com aquele enfeitinho de cristal. A gente dá um sorriso saudoso e gostoso. Lembramos do momento especial em que ele foi adquirido. Suspiramos, e seguimos em frente.
Hoje, me deparei com um desses sentimentos: o primeiro amor. Fazia muito tempo que não pensava nele, mas isso não significa que ele não estivesse guardadinho no coração todos esses anos.
Não sou a pessoa mais inteligente e mais sábia desse mundo. Talvez o que eu diga seja verdade. Talvez não. Mas é minha verdade de hoje.
Uma vez que se ama uma pessoa, você o amará para sempre. Não importa se seja recíproco. Não importa se ele um dia te magoe. Não importa se o odiamos, ou não. O amor sempre estará lá. Porque o amor é algo que a gente dá sem promissória e nem recibo. Ele é emanado, e, o fato de ser ou não correspondido, não o desqualifica enquanto amor.
Tem data de nascimento, porém, até hoje, nunca ouvi falar do seu obituário. Quando a gente sofre com o amor... nós podemos amarrá-lo, seqüestrá-lo, torturá-lo, ou esconder tão bem escondido que nunca mais o consigamos sentir.
Ou, pode fazer como eu, enfeitá-lo com um laçarote lilás e deixar ali, quietinho, no cantinho da estante da sala de estar do nosso coração... ausente em sua constante presença na decoração da vida.
Meu primeiro amor foi como deveria ser: doce, mágico e trágico. Pintado com todas as cores do arco-íris. Fui a princesa em perigo e a bruxa malvada do meu próprio conto de fadas. Tudo ao mesmo tempo.
Mas, hoje, fechei meus olhos e visualizei esse pedacinho de cristal que, apesar de todo o tempo passado, mágoa sentida e a experiência adquirida... continua ali, brilhante e inocente, como sempre foi e como, pelo jeito, sempre será.
Lembrei da época em que queria ter um amor para a vida toda. Alguém que eu cuidasse e que me protegesse. Alguém que eu brigasse e fizesse as pazes levando o café da manhã na cama. Alguém com quem eu pudesse fazer qualquer coisa extraordinária, ou, simplesmente, ficar ao lado dele sem fazer nada, e, ambas a hipóteses serem igualmente doces e felizes. Alguém com quem eu pudesse conhecer as maravilhas do mundo e os perigos de conhecer a mim mesma. Alguém, até que a morte nos separasse.
Sei que não fui tão importante na vida dele quanto ele na minha. Sabe, depois de tantos anos essas miudezas não doem mais. Eu o amei e, de certa forma, continuo o amando... é verdade. Mas esse é um sentimento meu, que só EU sinto e somente EU me delicio com tudo que de bom ele pode me proporcionar. Um sentimento quase infantil, inocente e... como toda criança: egoísta.
O que ele de bom me proporciona? Faz-me lembrar que, hoje, mais do que nunca, ainda quero as mesmas coisas simples (sem deixar de ser extraordinárias em sua singeleza) que sempre desejei. Mesmo estando longe dele, ainda consigo mandar vibrações de carinho e afeto puros e cristalinos. Não sei se ele recebe ou não, mas o tempo me ensinou que algo piegas é, extremamente, verdadeiro: a lei do retorno. E, assim, descubro que querer o bem dele é uma forma de me amar também, de valorizar o que há de melhor em mim.
Entenda, não importa se ele hoje é solteiro ou casado, se tem filhos ou não, se ama alguém ou não. Porque o amor é assim, se dá de graça e a pessoa que recebe o carrega para o resto da via.
Como disse A. S. Exupéry, “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.
E eu? Sigo em frente, vivendo as delícias e os temores que o tempo nos traz. Contudo, ainda guardo esse bibelô como meu pequeno tesouro do meu universo particular.
Muito lindo Pri! Me emocionei :*