Dor da ausência #comofaz
A dor da perda da minha mãe nunca passou. Nem passará e nem quero que passe. A dor da ausência é, praticamente, a única coisa que ainda me resta dela. Me recuso a apagá-la da minha memória, da vinha vida e, se a dor é preço, eu pago.
Assim que a minha mãe faleceu, vieram aquelas cachoeiras de consolo hipócrita: “com o tempo passa, tu vais ver”. Fica a dica: não passa. A dor da perda vai te marcar como ferro quente em gado. A diferença é que a marca do gado um dia para de doer. Essa dor não.
A falta do colo. Aaaahhh a falta do colo. Até hoje tenho a camisola preferida da minha mãe. Até a trouxe para SP. Ainda tem o cheirinho dela, e vesti-la me lembra o colo. Sei que já sou adulta. Sei que, mais cedo ou mais tarde, o cordão umbilical tem que ser cortado. Mas a verdade é que, apesar desse meu tamanho todo, gosto de colo, e de ser ninada de vez em quando. De receber aquele carinho no cabelo e ouvir que tudo dará certo.
Para quem não sabe, minha mãe faleceu devido a inúmeros AVCs consecutivos que foram paralisando o corpo dela aos poucos. Um pouco antes da paralisia total, ela sorriu, e, seu último sorriso foi para mim. No hospital, perguntaram a ela se era sua filha. Ela fez que sim com a cabeça. Aí, comentaram que eu era “grandona e bonitona”. Minha mãe me olhou e sorriu concordando. Seu último sorriso.
Quando estava me arrumando para o velório, liguei o rádio e tocou essa música que diz tudo aquilo que queria dizer para ela:
Eram para ser histórias bonitas. Saber que o último sorriso da tua mãe foi para ti. Ouvir, como num passe de mágica, no rádio, tudo aquilo que estava sentindo em forma de canção. Mas não é. É cruel. Dói lembrar.
O que eu faço com essa dor? Ainda não sei. Queria poder me lembrar da minha mãe só com carinho. Mas não dá.
O irônico é que a dor da ausência dela me faz arder em desejo do colo de mãe.
Estar, praticamente, sozinha numa cidade estranha numa hora dessas não é digno. Mas é suportável (mentira).
Mas a falta do colo, ah... essa sim, me faz chorar.
Filho(a) que AMA a mãe, nunca tem o cordão umbilical rompido.
Mesmo que case, faça filhos, namore ou viaje pelo mundo... sempre haverá aquele momento de carência em que, somente o colo de quem nos amou e acolheu com carinho dentro da barriga é capaz de dar.
Mãe não é aquela que coloca filho no mundo, mas quem ama seus filhos. Seja mãe de criação ou de sangue, amor de mãe é eterno!