Todos têm sua fraqueza. Jamais, aconselharia a ninguém a expô-las. Sempre tem um desalmado que pode usar isso contra ti.
Qual é a sua criptonita? Qual é a minha criptonita? Precisamos localizá-la, rapidamente, e jogar para fora o mais longe que puder. Afinal, sem fraquezas, sem dor. A coisa mais lógica a fazer.
Minha criptonita é meu sentimento pelos outros. Não sou do tipo sentimentalista e melosa. Mas quando eu sinto, eu sinto para valer.
É meu precioso. Eu sinto esse querer bem, esse amor. Não sei, exatamente, o que acontece para fazer que esse sentimento nasça por umas pessoas e outras não. Só sei que nasce e não é necessário ser recíproco.
Minha fraqueza é dar de graça aquilo que eu mais preservo em mim. Guardo com todo carinho e não deixo qualquer um chegar perto. Mas, quando resolvo dar... dou de graça, sorrindo e oferecendo um bolinho com café junto.
Dou sem pedir nada em troca. É um presente que não se vê e nem todos têm a sensibilidade de sentir. Mas está lá... intacto.
Nunca pedi nada em troca, mas não sou idiota em não confessar que espero ser correspondida. Espero mesmo. Fielmente.
Nem sempre sou correspondida, aí o que nos sobra é respirar fundo e seguir em frente, porque, infelizmente, não há forma de pegar esse sentimento de volta e fingir que ele nunca existiu.
Ele existe, foi marcado como boi a ferro em brasa no átrio mais nobre do meu coração.
Não sou a pessoa mais apta do mundo a demonstrar esses meus sentimentos. E, quando, eu mostro... mostro do meu jeito torto. Gostaria de dizer a essas pessoas, diariamente, que eu as amo, mandar cartõezinhos melosos, de abraçar e de beijar e de aninhar todos em meu braço com cafunés. Mas, eu não sei fazer isso.
Essas ações, por mais belas que sejam, me parecem falsas. É estranho, mas meu sentimento floresce quando eu brigo com elas, dizendo que me magoei ou que ela está fazendo tudo errado por isso ou por aquilo. Só me “disponho a me indispor” com as pessoas que amo.
É que meu coração não suporta ver os que amo fazendo coisas que podem machucá-los lá na frente. E para impedir isso, sou capaz de gritar, de ofender, de magoar, de bater. Se alguém tiver que sofrer, que seja eu sofrendo pelo olhar torto daqueles que amo. Se isso for impedir de vê-los sofrer... eu pago o preço.
E se alguém ofender aqueles que amo, meu querido, comprou uma briga com o inferno. Eu perco as estribeiras, a educação e bom senso. Viro um pitbul de batom. Quer brigar com os que amo? Vai ter que passar por cima de mim primeiro. Posso suportar ofensas a minha pessoa, até acho graça. Mas mexe com aqueles que amo que eu mostro onde está a graça bem no meio da fuça de alguém.
Mas falando em graça e em sentimento, a graça está, exatamente, em dar de graça esse amor e mesmo assim, sem pedir nada em troca, sem manipular, receber a reciprocidade.
A desgraça está em dar de graça e a pessoa fazer pouco caso dele. Ou quando alguém descobre que esse sentimento me é importante e tenta me atingir com ele. Afinal, podem me atingir o quanto quiserem, mas não cheguem perto dos meus sentimentos pelos outros ou de seus destinatários... eu viro bicho.
O mais irônico de tudo isso, é que meu sentimento pelos outros é minha criptonita e, ao mesmo tempo, é a minha força de viver. Se eu jogar minha criptonita longe de mim, eu morro. Se eu conviver com a minha criptonita, sou capaz de matar e de morrer e de continuar vivendo ainda sim.
A verdade é que a minha fraqueza é a minha maior fortaleza. Um paradoxo irresolúvel, inviável e intratável.
Essa é a minha criptonita: Amarga e doce, mortal e vital, repulsiva e preciosa, esculpida com muito custo e dada de graça, me faz experimentar o céu e descer aos infernos, razão da minha vida e que pode me custar a morte.
Essa dualidade ainda vai me transformar em um monstro, ou me deixar mais humana. Tudo dependerá do ponto de vista daqueles que fazem parte da minha doce criptonita e daqueles que não possuem a dádiva de nem chegar perto dela.