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Ode à Tristeza

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Naquele dia, minha alma estava como o céu: triste, cinza, fechado, chorando. Com o tempo, aprendi a me dar ao luxo de me sentir miserável e só com meus botões. É que a vida moderna exige tanto, tanto trabalho, tanta festa, tanto sexo, tanta alegria, tanto dinheiro... Exige tanta perfeição que parece, aos olhos do mundo, que somos pecadores, relapsos, fracos por querer passar um tempo sentindo pena de si mesmo.
Na ditadura da felicidade, sou herege por preferir ficar em casa lendo aquele romance bobo ou chorar por tudo aquilo que, na vida, não há o que fazer.
Nessa obrigação de sempre estar sorrindo e contente, esqueceu-se que é da tristeza que nascem as mais lindas canções.
A alegria é superficial, mas a tristeza... a tristeza te obriga a mergulhar em si mesmo, a entrar e sair do próprio peito com faca em punho rasgando a carne. Não há frivolidade na tristeza.
Olhar, e permitir-se olhar para o que dói é um privilégio do ser humano. Ver-se suja, hipócrita, leprosa, mimada. Culpar a Deus e a si mesma. Sentir-se lixo em meios as lágrimas.
Vivenciar a tristeza não é a solução dos problemas, mas é minha forma que lidar com os problemas que não tem solução. Gosto de ser triste. Não sempre, mas por vez ou outra, só para não me esquecer que sou humana. Só para poder apreciar a beleza de uma flor ou de um bichano se espreguiçando na fresta de sol.
Não é aquela tristeza que clama pelo consolo alheio. É solitária, egoísta e birrenta. Um manjar a ser apreciado só por mim. Nesses dias, não quero colo e nem discursos reconfortantes. Prefiro encarar todos os monstros no espelho, sentir a dor do flagelo, da cólera, do desespero.
Deixe-me chorar por nada, por tudo e pelas coisas que não se podem mudar. Deixe-me blasfemar contra Deus, contra a Justiça divida.
Deixe-me, porque sou com uma fênix. Preciso ver-me em cinzas para renascer na glória.

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